sábado, 27 de abril de 2013

Poema: O Encontro de Zu e Zé


Capítulo I 
Zé do Gole

Ô, Zé, vem cá!
Sou muiê, e não seu aventá.

Pensa que eu num sei
Qui cê tá de oi na dondoca
Aquela magrela sem qui fazê
Muié feia das perna torna?

Quando nóis se casemo
E tu me jurou eterno amor
O que disse na igreja cheia
O tempo já apagou?

Ô, Zé, vem cá!
Qui vô acertá nossas conta
Hoje ocê toma jeito de home
Se não, num tem cumida pronta.

Ocê não me falô das cueca rajada
Isso eu té qui tolero
Mas vê ocê dia e noite
Ficano esse home amarelo
Socado no mei da bebida
Esse tipo de marido num quero.

Ô, Zé vem cá!
Qui vô resovê nossas vida
Ô ocê deixa esse mau custume
Ô eu acabo com sua vida.
                André Santos Silva






Capítulo II 
A resposta de Zu mulher de Zé do Gole


Sou Zu mulé arretada
Eu te falei seu barrigudo
Se pode bebê tanto assim
Também pode ser chifrudo

Zé, meu marido, eu te oiei
Noite e dia sem recramá
Limpei suas sujera de bibida
Pro casamento conservá
E tu num mudou, miseravi
Ah, Zé, tu vai pena!

Tomei uma decisão importante
De sofrimento, chega já
Vou no bar de cumpade Miguel
Minhas tristeza afogá

Bota uma, cumpade Miguel
Hoje sô uma mulher decidida
Não pensei muito: larguei o Zé
Quero tomá umas birita
Vivê assim, ninguém aguenta
Sou mulé jovem, forte e bonita.

Zeca que era um donzelo
Desses qui nunca conheceu mulé
Viu as declaração da largada sofrida
E decidiu metê a culé
E se aproximando do balcão disse:
Minha fofura, beba o que quiser.

Depois dos dois muito beber
O clima foi se esquentando
E mal aguentavam ficar de pé
Eles saíram dali trotando.

Do outro lado da rua com tristeza
Estava Zé inconformado
Botou o chapéu na cabeça
E voltou pra casa escabreado
Nesse dia não bebeu
Mas se sentiu embriagado.
Zé viveu noites tão sofridas
De cachorro abandonado.
                André Santos Silva



Capítulo III 
O Encontro de Zu e Zé


Tudo começou quando Zé se pôs a beber
Zu desesperada e sem saber o que fazer
Chamou Zé muitas vezes e o fez compreender 
Que uma decisão absurda poderia acontecer
Se o mesmo não deixasse o bar
E não parasse de beber.

Como viu que Zé não tinha jeito
Zu tomou coragem, arregalou os beiços
Deixou Zé de boca aberta 
E se jogou sem preceitos
Perdeu a vida de mulher boa
E meteu pinga no peito

Zé perdeu Zu e ficou desconsolado
Não tinha nas noites frias ninguém ao seu lado
E quis tomar jeito depois de ficar abismado
Viu Zu, sua mulher, como um cachorro jogado
Tendo muitas companhias de homens desonrados
Golando em vários copos de sujeitos desgraçados.

Zé e Zu se separaram por vício e teimosia
Antes não eram felizes e não tinham alegria
Zu não suportou a vida de tamanha euforia
Ver Zé sempre bebendo e participando de orgias
Tirou o seu sossego, mesmo que antes não tinha
Se rebelou pra vida justa e de casamento
Quis fazer ciúme e se jogou ao relento

Zé e Zu separados, cada um em seu lugar
Ele em casa sozinho e ela a beber no bar
Seu coração, apertado, deseja Zu encontrar
Mas não tem molejo de homem corajoso
Desses que tiram o pé do lugar
Capaz de ir atrás da mulher e dar ordem
Volta pra casa já.

Um dia ao sair de casa, Zé, Zu avistou
E logo saiu correndo: espere, meu amor!
Volta cumigo meu bem, 
Não me faça um sofredor,
Desde do dia em que ocê foi imbora,
Minha vida dismoronou.

Que nada, pião, se ponha em seu lugar
Não sabia qui era tão boa, essa vida de bar
Hoje num lavo suas cuecas e nem tenho qui te aturar
Nem sinto seu bafo de onça 
Nem ouço ocê roncar
Sou livre e disimpidida
E pra casa num vou voltar.

Zé, me paga um cachaça, 
Daquelas que ocê já bebeu
Enquanto voltar pra casa,
Não conte mais cum eu
Vou ali antes qui feche o bar
Festejar com Amadeu.

Zu virou as costas e dali se afastou
Zé coçou a cabeça e se desesperou
Viu Zu pegar no copo que um dia ele apalpou
Nesse encontro, não tiveram exito, 
O casal mal conversou
E caminhando desconsolado, para casa Zé voltou.

Chegando em casa, pensando... algo incomodou
Lembrou dos pedidos de Zu, que um dia não escutou
A angústia foi tamanha, que ela não suportou
Abandonou aquela vida e o marido bebedor.
Zé fechou a porta e não quis nem jantar
Mas jurou que num outro dia Zu não iria escapar
Ele a traria de volta pra casa, nem que fosse pra brigar.
                                               André Santos Silva


Observação: Senhores leitores, não percam a continuação dessa história no CAPÍTULO IV.