terça-feira, 2 de julho de 2013

02 de Julho - Independência da Bahia




   A declaração de independência feita por Dom Pedro I, em Sete de Setembro de 1822, deu início a uma série de conflitos entre governos e tropas locais ainda fiéis ao governo português e as forças que apoiavam nosso novo imperador. Na Bahia, o fim do domínio lusitano já se fez presente no ano de 1798, ano em que aconteceram as lutas da Conjuração Baiana.
   No ano de 1821, as notícias da Revolução do Porto reavivaram as esperanças autonomistas em Salvador. Os grupos favoráveis ao fim da colonização enxergavam na transformação liberal lusitana um importante passo para que o Brasil atingisse sua independência. No entanto, os liberais de Portugal restringiam a onda mudancista ao Estado Português, defendendo a reafirmação dos laços coloniais.
   As relações entre portugueses e brasileiros começaram a se acirrar, promovendo uma verdadeira cisão entre esses dois grupos presentes em Salvador. Meses antes da independência, grupos políticos se articulavam pró e contra essa mesma questão. No dia 11 de fevereiro de 1822, uma nova junta de governo administrada pelo Brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo deu vazão às disputas, já que o novo governador da cidade se declarava fiel a Portugal.
   Utilizando autoritariamente as tropas a seu dispor, Madeira de Melo resolveu inspecionar as infantarias, de maioria brasileira, no intuito de reafirmar sua autoridade. A atitude tomada deu início aos primeiros conflitos, que se iniciaram no dia 19 de fevereiro de 1822, nas proximidades do Forte de São Pedro. Em pouco tempo, as lutas se alastraram para as imediações da cidade de Salvador. Mercês, Praça da Piedade e Campo da Pólvora se tornaram os principais palcos da guerra.
   Nessa primeira onda de confrontos, as tropas lusitanas não só enfrentaram militares nativos, bem como invadiram casas e atacaram civis. 



   O mais marcante episódio de desmando ocorreu quando um grupo português invadiu o Convento da Lapa e assassinou a abadessa Sóror Joana Angélica, considerada a primeira mártir do levante baiano. Mesmo com a derrota nativista, a oposição ao governo de Madeira de Melo aumentava.
   Durante as festividades ocorridas na procissão de São José, de 21 de março de 1822, grupos nativistas atiraram pedras contra os representantes do poderio português. Além disso, um jornal chamado “Constitucional” pregava oposição sistemática ao pacto colonial e defendia a total soberania política local. Em contrapartida, novas forças subordinadas a Madeira de Melo chegavam a Salvador, instigando a debandada de parte da população local.
   Tomando outros centros urbanos do interior, o movimento separatista ganhou força nas vilas de São Francisco e Cachoeira. Ciente destes outros focos de resistência, Madeiro de Melo enviou tropas para Cachoeira. A chegada das tropas incentivou os líderes políticos locais a mobilizarem a população a favor do reconhecimento do Príncipe Regente Dom Pedro I. Tal medida verificaria qual a postura dos populares em relação às autoridades lusitanas recém-chegadas.
   O apoio popular a Dom Pedro I significou uma afronta à autoridade de Madeira de Melo, que mais uma vez respondeu com armas ao desejo da população local. Os brasileiros, inconformados com a violência do governador, proclamaram a formação de uma Junta Conciliatória e de Defesa instituída com o objetivo de lutar contra o poderio lusitano. Os conflitos se iniciaram em Cachoeira, tomaram outras cidades do Recôncavo Baiano e também atingiram a capital Salvador.
   As ações dos revoltosos ganharam maior articulação com a criação de um novo governo comandado por Miguel Calmon do Pin e Almeida. Enquanto as forças pró-independência se organizavam pelo interior e na cidade de Salvador, a Corte Portuguesa enviou cerca de 750 soldados sob a liderança do general francês Pedro Labatut. As principais lutas se engendraram na região de Pirajá, onde independentes e metropolitanos abriram fogo uns contra os outros.
   Devido à eficaz resistência organizada pelos defensores da independência e o apoio das tropas lideradas pelo militar britânico Thomas Cochrane, as tropas fiéis a Portugal acabaram sendo derrotadas em 2 de julho de 1823. O episódio, além de marcar as lutas de independência do Brasil, motivou a criação de um feriado onde se comemora a chamada Independência da Bahia.

Por Rainer Sousa (Equipe Brasil Escola)
Graduado em História

As mulheres nas lutas pela independência na Bahia


  Um momento histórico importante em que mulheres ganharam notoriedade na Bahia foi durante as lutas pela Independência do Brasil. Personagens como Joana Angélica, Maria Quitéria e Maria Felipa – esta ainda pouco conhecida – se destacaram nesta época.
   Mártir da luta pela independência, a sóror Joana Angélica morreu defendendo o Convento da Lapa contra soldados portugueses, em fevereiro de 1822. Ela era diretora do convento na época e tentou impedir a passagem dos portugueses pelo local. A atitude lhe custou a vida. Foi assassinada a golpes de baioneta na entrada do convento.
   Outra heroína da guerra pela independência é Maria Quitéria, que se disfarçou de homem para lutar como voluntária no batalhão Voluntários do Príncipe, conhecido como Periquito. A história destaca a valentia da cachoeirense que se alistou nas tropas do general Labatut e a quem todos conheciam como Soldado Medeiros.
   Assim como Maria Quitéria, Maria Felipa de Oliveira também participou das lutas pela independência, na Ilha de Itaparica. Negra, alta, corpulenta, ela liderou a resistência popular à invasão da ilha, durante a guerra pela independência do Brasil. Sua bravura foi narrada no romance “Sargento Pedro”, do escritor baiano, Xavier Marques, também nascido em Itaparica.
   Durante muito tempo seu nome foi ocultado da história. Somente depois de mais de 180 anos da conquista da independência sua atuação foi relembrada. A lenda sobre Maria Felipa dá conta de que ela liderou a queima de 42 embarcações da frota portuguesa na Praia do Convento.
                                    Marta Erhardt, do A TARDE On Line.

Maria Felipa, Joana Angélica e Maria Quitéria


   Costureiras, esposas, mães, filhas, negras ganhadeiras que trabalhavam para libertar seus maridos e filhos são exemplos de mulheres anônimas que participaram das lutas pela independência da Bahia.
   Apenas três dessas heroínas baianas entraram para a história e são símbolos da resistência que culminou no 2 de julho: Joana Angélica, Maria Quitéria e a negra Maria Felipa.

Maria Felipa


   A história de Maria Felipa, presente na cultura e no imaginário popular da Ilha de Itaparica, foi citada pela primeira vez em 1905, em um documento do historiador Ubaldo Osório, avô do escritor João Ubaldo Ribeiro.
   Trabalhadora braçal, pescadora e marisqueira, a negra liderou outras mulheres negras, índios tupinambás e tapuias em batalhas contra os portugueses que atacavam a Ilha de Itaparica, a partir de 1822. Um dos feitos do grupo de Maria Felipa foi ter queimado 40 embarcações portuguesas que estavam próximas à Ilha.
   Conhecida por ser uma mulher muito alta, de grande força física, Maria Felipa teria liderado um grupo de 200 pessoas, que usavam facas de cortar baleia, peixeiras, pedaços de pau e galhos com espinhos como armas.
   “As mulheres seduziam os portugueses, levavam pra uma praia, faziam com que eles bebessem, os despiam e davam uma surra de cansanção”, conta a pesquisadora de patrimônio cultural e histórico Eny Kleyde Farias, autora do livro “Maria Felipa de Oliveira: heroína da independência da Bahia”, lançado em 2010.
   Mesmo após a independência, Maria Felipa continuou exercendo sua liderança sobre a população pobre da Ilha de Itaparica. Na primeira cerimônia de hasteamento da bandeira do Brasil na Fortaleza de São Lourenço, na Ponta das Baleias, Felipa e seu grupo invadiram a armação de pesca de um português rico e surraram um vigia, o que demonstra que as hostilidades entre portugueses e brasileiros, principalmente os pobres, não terminaram no 2 de julho.
   É neste episódio que fica registrado o canto de Maria Felipa: “havemos de comer marotos com pão, dar-lhes uma surra de bem cansanção, fazer as marotas morrer de paixão”.

                                         Joana Angélica


   Nos primeiros dias de insegurança e medo que tomaram conta da cidade da Bahia, em fevereiro de 1822, a abadessa Joana Angélica se tornou a primeira heroína e mártir da independência.
   O general português Madeira de Melo enfrentava a oposição do comando dos militares brasileiros com violência. Durante o ataque ao quartel da Mouraria, os soldados portugueses tentavam invadir o Convento da Lapa em busca de armas e inimigos supostamente escondidos.
   Já com 60 anos e pela segunda vez na direção do Convento, a religiosa tentou impedir a entrada de soldados no ambiente feminino. Recebeu golpes de baioneta como resposta e faleceu no dia seguinte, em 20 de fevereiro de 1822.
   Na época, seu assassinato serviu como um dos estopins para o início da revolta dos brasileiros. Atualmente, Joana Angélica dá nome à avenida principal do bairro de Nazaré, onde fica o Convento da Lapa.

Maria Quitéria


   Ao fugir de casa para lutar pela Bahia, Maria Quitéria provavelmente não imaginou que se tornaria uma das principais personagens da independência. Com grande habilidade no manejo de armas e parente de militares, ela não se contentou em assumir o papel normalmente reservado às mulheres no século 19.
   Usando o uniforme de seu cunhado, Maria Quitéria entra para o Batalhão dos Periquitos, assim apelidado popularmente pelo uso de mangas e golas verdes, e passa a se chamar soldado Medeiros. Combate na Bahia de Todos os Santos, em Ilha de Maré, Barra do Paraguaçu e na cidade de Salvador, na estrada da Pituba, Itapuã, e Conceição.
   Por causa da sua coragem em fingir ser um homem para combater, o general Labatut lhe deu honras de Primeiro Cadete e um decreto imperial lhe conferiu as honras de Alferes de Linha.
   Em 28 de julho de 1996, foi reconhecida como Patronesse do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. Atualmente, por determinação ministerial, sua imagem deve estar em todos os quartéis do país.
   Em Salvador, uma estátua foi erguida em 1953, ano do centenário de sua morte, no Bairro da Liberdade.  (TRIBUNA DA BAHIA).



Opinião - André Santos Silva


   É incrível o poder que a nação organizada possui. Esse, talvez, seja o maior bem que as pessoas que vivem em sociedade conseguiram ao longo dos anos, em especial, através das conquistadas adquiridas por meio das sábias manifestações. 
   No entanto, é importante mencionar que, diante da organização que a humanidade possui, não podemos mais tolerar cenas de violência que transformam o espaço caótico que já possuímos e que lutamos para transformar, num cenário mais degradante ainda. Dessa forma, não podemos exigir, através das nossas manifestações, a mudança do que julgamos estar errado.
   É importante mencionar que, um povo inteligente, luta e faz valer os seu direitos e nunca desrespeita o direito do outro. Dessa forma, poderemos bater no peito e com moral exigir o que nos é de direito. 
   Para encerrar esse pensamento, deixo como acréscimo, o poema já publicado nesse blog que traz uma mensagem ímpar e incentivadora. 

                          Poema: Direito de lutar



Lutar sempre, 
é um direito da nação,
lutar com responsabilidade,
forma e transforma o cidadão:
que vive, 
que chora, 
que sente,
que sofre,
que ama 
e que sente necessidade 
de modificação.

Lutar é um desejo do cidadão
que quer mais:
hospital, 
saúde,
carnaval,
futebol,
trabalho,
a isca e o anzol.

O que não se pode 
é pensar que lutar,
seja depredar,
destruir,
desfazer,
desrespeitar.

A todos cabem o direito
de lutar,
de sonhar.
Assim, caminha a humanidade
e se pacífica a caminhada for,
nasce o diálogo
e o direito transformador.
                                        André Santos Silva