terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Poema de cordel: Memórias de Campeonato




Quanta lembrança boa
Guardo em minha memória
Isso marca a minha existência
E me traz essa força que me revigora
É como um relógio que marca o tempo
E trazendo um alento, fica cá e não vai embora.

Uma memória que tenho entre tantas
Com certeza, muito me anima, de fato
E lá no fundo de minhas lembranças
Deixo vir à tona os campeonatos
Que aconteciam em nossa Maiquinique
E eu garoto com todo pique, achava mesmo um barato.

A bola rolava no campo
As pessoas ali animadas
No estádio de Maiquinique não tinha muro
E também não havia arquibancada
Mas causava uma grande alegria a todos
Que com prazer imenso, aquele lugar frequentava.

Jovens compareciam ali no campo
Também pessoas idosas e toda a população
Nesse tempo tínhamos poucos atrativos
Mas aproveitávamos a vida com emoção
Era lugar de encontrar os amigos
Assistir futebol, bater um papo e fazer uma boa gozação.

Eu também me recordo nitidamente
De uma figura respeitosa e sensacional
Que frequentava aquele lugar aos domingos
Pois curtia muito o futebol
Tinha presença forte e confirmada
Deixava sua marca registrada de torcedor excepcional.

Todo domingo era sagrado
E sentado em seu banquinho a observar
Seus olhos corriam no campo por todos os lados
E o rádinho de pilha, em seu ouvido, a escutar
Seu território era marcado, o mesmo e sempre
E distante de todos, queria silêncio, para poder se concentrar.

Não era difícil encontrá-lo no estádio
Na parte mais alta ele se acomodava
De lá assitia, atento, a todos os jogos
E concetrado, não emitia nenhuma palavra
Mas de uma coisa podia ter certeza e ficar convicto
Do banco e do rádio de pilha, não se desgrudava.

Quando estava perto para terminar o jogo
Tio Néu Santana, em silêncio, dali saía
Pegava o banco e o seu radinho de pilha
E do estádio, se despedia
Não gostava de muita muvuca
E ver bagunça, era algo que não queria.

Hoje guardo na memória essa lembrança
De um grande homem, um cidadão fantástico
Quando se inicia um jogo no campo, eu paro e penso
E me lembro dos tais campeonatos
Quando lá estou aos domingos, eu olho aquele lugar lá no alto
E me recordo saudoso, de tio Néu em seu banco, assistindo ao jogo e escutando o seu rádio. 
                                                      André Santos Silva


Biografia de Tio Néu



   Manoel Joaquim de Santana (Néu Santana) nasceu no dia 10 de junho de 1922, no município de Encruzilhada, mas considerava como data do seu nascimento o dia 16 de junho. O mesmo dizia que a data no registro estava errada.
   Tio Néu – como muitos o chamavam – era filho do senhor Herculano Joaquim de Santana e Arcanja Francisca de Souza. Ele cresceu na zona rural, numa pequena propriedade de seu pai, próxima ao Distrito de Pouso Alegre, um povoado de Maiquinique.
   Nunca frequentou a escola. Por ser um garoto esperto, aprendeu a ler e a escrever o essencial para se comunicar por escrito. Nesse período, trabalhava na zona rural e foi lá que desenvolveu suas primeiras ações enquanto ser humano responsável.
   O garoto esperto cresceu, tornou-se jovem e aos 22 anos casou-se com Josefina Pereira de Santana com quem teve oito filhos.
   Por ser um homem animado, gostava de tocar dois instrumentos: sua viola e a sanfona, instrumento o qual utilizava para animar os “bailes” na época de sua juventude.
   Algum tempo depois, mudou-se com a família para Ribeirão do Salto, município de Itarantim, onde começou a trabalhar como responsável pelo motor a óleo que fornecia energia para o lugarejo. Em 1962, mudou-se para Maiquinique a convite do então Prefeito de Macarani, Sr. Osvaldo Coelho (Vadinho Coelho), que havia comprado um motor para fornecimento de energia aos moradores da pequena Maiquinique.
   Com a emancipação da cidade de Maiquinique e a chegada da energia elétrica, passou a ser funcionário da Prefeitura Municipal no cargo de eletricista. Por ser um homem de inteligência fantástica, mesmo sem grande nível de escolaridade, fez um curso de eletricista pelo IUB (Instituto Universal Brasileiro). Logo, aprendeu a fazer instalação elétrica e pelo fato de ter facilidade em adquirir conhecimento, aprendeu a “consertar” aparelhos eletrônicos.
   Manoel Santana era um cidadão com muitas habilidades para o trabalho. Eis que surge em seu currículo, mais uma profissão: a de fotógrafo. Ele então adquiriu uma máquina fotográfica e passou a tirar fotos dos eleitores – na época os títulos tinham foto. Em seu local de trabalho, num cômodo próximo à Igreja Católica, instalou um estúdio (era como se fosse na época) e lá recebia os cidadãos maiquiniquenses, especialmente os estudantes e, também, os que precisavam de seu trabalho de fotógrafo.
   Ao mudar para Maiquinique, tornou-se um católico assíduo em  todos  os  compromissos  da  Igreja.  E  assim, assumiu seus compromissos fielmente. Um deles era ligar o som da igreja sempre alguns minutos antes de começar a Santa Missa. Regulava o som e tinha o maior zelo, para que o mesmo não saísse da frequência planejada. Quando não podia ir às Missas, tinha sempre o compromisso de ir à igreja ligar o som e após o término, voltava para desligá-lo. Era devoto de Nossa Senhora Aparecida, por isso, rezava o terço várias vezes ao dia.
   Com 70 anos, aposentou-se do serviço público e, por ter a juventude na alma, continuou trabalhando com consertos de eletrônicos, até perder a visão devido ao diabetes.
   No dia 13 de outubro de 2012, faleceu aos 90 anos, o Senhor Manoel Joaquim de Santana, Tio Néu ou Néu Santana. Deixou na memória dos moradores de Maiquinique o exemplo de um homem humilde, honesto, trabalhador, bom esposo, bom pai, dono de um coração generoso sempre disposto a ajudar quem dele precisasse.                                                                                                      André Santos Silva

Fonte informativa: pesquisa realizada com a Professora Iara Sandra Pereira de Santana – filha de Manoel Santana.
Publicação autorizada pelos familiares.