quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Poema: Encher a pança



Não se anime não, João!
Hoje, essa vida num tá mais de confiança
Quem antes prometia o céu e a terra
Hoje só pensa em encher a pança
E ainda faz uns discursos vazios, faça sol ou frio
Vem com um sorriso que é pura lambança.

Não fique nervoso, João!
Mesmo que não tenha mais em quem confiar
Estar bem é virtude para sábios
Que não querem o tempo desperdiçar
E ainda levam a vida sorridente
Sem precisar pestanejar.

João, não fique nervoso!
Mas também não seja sempre pacato!
Busque observar, ao seu redor, as coisas
Para que esteja bem preparado
E que ninguém jamais o domine
Com sorrisos estampados e falsos.

Siga sua vida, João!
Mesmo que, barata, ela pareça ser
Pois é melhor se molhar na chuva
Do que no intenso sol se derreter
Mas não dê confianças a muitos, pois alguns dos cabruncos 
Só querem a pança encher.
                          André Santos Silva


Comentários do autor

   Numa sociedade marcada pelos interesses individuais e egoístas do homem, somos levados a acreditar que a verdade, a cada dia, se transforma numa realidade distante. 
   Vivemos e interagimos com pessoas que não conseguem observar o outro que sofre, o necessitado tão necessitado de pão. E com isso vem à tona a necessidade em ver mudada essa realidade. Mas o que fazer, se a realidade que nós inserimos, muitas vezes, é corrompida por migalhas? 
   É chegada a hora de o homem assumir o seu posto, enquanto homem de responsabilidade social, que tem como meta defender a vida coletiva e não observar apenas um palmo que está a frente dos seus olhos. Afinal, o mesmo pau que vai em Francisco também vai em Chico.