sexta-feira, 17 de abril de 2020

Abraçar



Num despontar de um dia simples 
Sob a luz do sol, tudo se modifica.
A vida se espreme, se enrola, se desenrola
E num instalo de bem-querer, 
A certeza que fica
É que tudo há de passar!

Os planos de ontem
Agora, terão que esperar.
De repente, um instante, um silêncio...
E a vida que era tão bonita, tão vívida
Que brotava dos sonhos simples
Começa a se contorcer e a se complicar.

O beijo dado logo pela manhã...
Acalme-se, não poderá hoje.
O aperto de mão
Não mais será entre dois.
E o abraço que nos aproxima
Talvez aconteça se, de fato, for sina.

As mãos se distanciam
O carinho, agora, é por conta de um olhar
E todos, mesmo estando perto,
Do abraço, precisam se esquivar.
Enquanto isso, a vida segue
E o coração, mesmo que se acelere, 
No peito, não para de palpitar.

Em casa, num humilde aconchego
A impaciência logo surge.
O tédio e o medo  tendem a vigorar
Os ânimos, antes por um triz, se enrijecem
E, num ímpeto, entende-se 
Que é hora de se reinventar.

Devagar respiro, desacelero 
E mais tranquilo, acalmo o coração,
Mas na cabeça surge um pensamento, 
Depois outro, mais outro
E sem pestanejar, ligeiramente,
Vem a mim um turbilhão: 

Sonhos,
Pensamentos.
Gentileza,
Momentos. 
Incertezas,
Planejamentos...

Agora, voltar não se pode mais.
Seguir, mesmo incerto, pois é preciso tentar.
Deixar a vida encontrar o seu encanto
Para que em algum lugar, ou em todos os cantos
Renasça a magia do aperto de mão, do abraço, do beijo
E o calor humano em poder, de novo, se abraçar.

                                                      André Santos Silva



Comentários do autor

     Vivemos um tempo de muitas incertezas e de grandes questionamentos. Tempo esse que precisamos reorganizar a nossa vida e nos revestir de calor humano para que, juntos, possamos prosseguir nossa estrada e abrir os caminhos necessários para a condução de nossa vida. 
     O poema "Abraçar" traz, justamente, essa ideia do processo da metamorfose que precisamos passar, até que revivamos gestos simples, costumeiros e tão essenciais, como o ato de nos abraçarmos.