quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Poema: Sem malícia




Quem um dia foi criança
sabe bem como é
aprontava o dia inteiro
e de noite, ainda, estava de pé.

Jogava bola na rua
De pau no litro queria brincar
Tunga, esconde-esconde, salva vida
Um bom tempo pra recordar.

Era um tal de bandeirinha
Que o território do outro invadia
E se não corresse velozmente
Escadeirado amanheceria
Por levar paulada com um chicote
Que no momento nem doía.

Criança aprontava mesmo
Sua fantasia era inventariar
Hoje em dia está muito diferente
Criança, não mais quer brincar.

Em casa nossas peraltices
Muitas pirraças sem noção
Todo dia tinha quebra-pau
E briga com os irmãos

Quando a mãe guardava um bolo
Na geladeira, prateleira ou no fogão
Ficávamos na ponta do pé
E ali metíamos a mão
Parece que o bicho tinha mais sabor
E a vida mais emoção.
           André Santos Silva

Comentários do autor

   O ser humano é marcado por memórias. Isso faz com que ele se lembre com alegria ou nostalgia de um tempo que julga relevante para sua formação, enquanto sujeito.
   Com certeza, para aqueles que puderam desfrutar de uma infância saudável, esse tempo traz à tona grandes e marcantes acontecimentos. Qual a criança que nunca realizou uma peraltice? Quem nunca tomou banho de rio, quando proibido pela mãe? Quem nunca subiu numa cadeira ou num banco para pegar, escondido, um pedaço a mais do delicioso bolo feito para o café da manhã ou da tarde?
   Tudo isso acontecia sem malícia, simplesmente, pelo fato de ser criança.