Poema:
Panela de barro
Do barro se fez o homem
E com ele o homem criou
Casa, bloco, telha, vaso e tijolo
E tantas coisas inventou
Fez o tijolo adobão
E surgiram as paredes
E para o seu descanso
Também inventou a rede
E como se não bastasse
Nova invenção criou
Do barro fez a panela
Bem no tempo do meu avô
Isso é bem remoto
Caso eu conte pode emendar pano
É algo presente nos dias atuais
Coisa de quatrocentos anos
Ela já foi tema de música
E fez jus a boa mulher
Nela comida sempre tem bom sabor
E não chega pra quem quer
A panela de barro é bem quista
Por esse nosso mundaré.
André Santos Silva
Panela de barro é uma tradição
quase tão antiga quanto a Ilha
Vitor Nogueira
A produção artesanal de panela de barro é uma das maiores expressões da cultura popular de Vitória e do Espírito Santo. A técnica na produção, assim como a estrutura social das artesãs, pouco mudou em mais de 400 anos, desde quando era produzida nas tribos indígenas.
Nos últimos séculos esse trabalho sempre garantiu a sobrevivência econômica de famílias. As artesãs estão vinculadas à Associação das Paneleiras. A maioria delas trabalha em um galpão em Goiabeiras. As autênticas Moqueca Capixaba e Torta Capixaba, dois pratos típicos regionais, somente são servidos nas panelas de barro por tradição.
Para fazer as panelas, as artesãs retiram a argila do Vale do Mulembá, local situado no bairro Joana D'Arc, na Ilha de Vitória. Do manguezal que margeia a região de Goiabeiras é extraída a casca da Rhysophora mangle, popularmente chamada de mangue vermelho. Essa casca permite extrair a tintura impermeabilizante de tanino, com a qual são pintadas de negro as panelas, quando quentes.
Patrimônio Cultural Brasileiro
A arte de confeccionar as panelas de barro foi herdada das culturas tupi-guarani e transmitida por várias gerações. Desde 2002 o ofício de fazer panelas de barro é reconhecido nacionalmente como um Bem Cultural de Natureza Imaterial e titulado como Patrimônio Cultural Brasileiro.
A inclusão das paneleiras como Patrimônio Cultural Brasileiro foi uma iniciativa do Ministério da Cultura e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A medida se tornou possível por intermédio do Decreto Federal 3.551/2000, que instituiu o registro de bens culturais de natureza imaterial.
Trabalho manual
A modelagem das panelas é feita manualmente. A parede da panela é levantada por meio do uso de roletes ou escavada na "bola" de argila, quando é "puxada". Para isso são utilizados os movimentos das mãos, tanto circulares como verticais, abaulando, arredondando, definindo o formato da peça com a ajuda de ferramentas rudimentares, como pedras lisas, cascas de coco, coité (pedaço de cabaça) e objetos similares. É o mesmo procedimento utilizado pelos povos indígenas que habitaram Vitória há mais de 400 anos.
A característica mais marcante das panelas é a coloração escura. Isto é obtido por meio da impregnação do tanino na peça. A casca é retirada do tronco por meio de golpes de um porrete de madeira. As lascas da Rhysophora mangle, o mangue vermelho, são picadas e colocadas de molho em água doce, para curtir dessa forma em um máximo de três dias.
Panelas de barro sendo queimadas
Consciência ecológica
Ao contrário do que se possa supor, essa prática não é predatória, porque foi disseminada a consciência de preservação por parte dos "casqueiros". Dessa forma, somente é retirada a casca de um dos lados do tronco, em pouca quantidade. O procedimento não prejudica a árvore, nem o ecossistema do manguezal.
A aplicação do tanino nas panelas é feita da seguinte forma: com uma vassourinha embebida em tanino, bate-se, vigorosamente, na peça ainda quente, imediatamente após sua retirada do fogo. Esse processo de impregnação é conhecido como "açoite". Como resultado, o tanino penetra nos poros da cerâmica, cobrindo fissuras e tornando-a impermeável, servindo também para impedir a proliferação de fungos, que, com o correr do tempo, esfarelam o barro.
Com a coloração escura da panela é possível obter uma melhor concentração do calor, facilitando, dessa forma, o cozimento e a conservação dos alimentos. As panelas, depois de modeladas, ficam em lugar ventilado e protegido do sol até secarem completamente. Só depois é efetuada a queima, não em forno, mas em fogueiras a céu aberto - método bastante primitivo adotado por tribos indígenas.
O processo consiste em empilhar as panelas sobre grossas toras de madeiras, formando o que se chamam de "cama", para permitir, desse modo, a circulação do ar pela parte inferior. Nas laterais e em cima, são colocados pedaços menores de madeira. O fogo é ateado em uma das extremidades, na "cabeceira da cama", e, com a ajuda da ventilação natural, expande-se por todo o conjunto. Dependendo do número de peças, o cozimento pode durar várias horas.
A queima também é feita dentro de um procedimento ecologicamente correto, já que não há desmatamento de árvores da região. Para fazer o fogo são utilizados restos de madeiras, principalmente da construção civil. Apesar desse tipo de madeira nem sempre possuir o melhor poder calorífico, o resultado final é satisfatório desde que o calor produzido seja intenso, uniforme e dure o tempo necessário.
http://www.vitoria.es.gov.br/turismo.php?pagina=paneladebarro
Outras panelas, além das de barro
Panelas de alumínio
Panela arara
Panelas de aço
Panela de pressão atual
Panela de pressão antiga
Panelas de pressão antigas
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