quinta-feira, 24 de abril de 2014

Poema: Um certo aluno



Hoje senti um aperto no peito
Quando me pus a imaginar
A labuta de uma criança
Que se esforça pra estudar
Ela me revelou com entusiasmo
O seu horário de se levantar.

Aquilo me doeu na alma
Quando me pus em seu lugar
Sair de casa bem cedinho
E só à tarde voltar
Esquentar o almoço do dia
Para a fome saciar
Será que eu teria alegria
Para esse fato expressar?

Disse-me com a alma radiante:
Professor, eu acordo quatro e meia
E quando não dá não tomo café
Mas à escola eu não falto
Faço o esforço que puder.

Então pensei logo
Nos alunos aqui da cidade
Que não levam a escola a sério
Não aproveitam a idade
E nem valorizam o esforço dos pais
Que se sacrificam sem vaidade.

Hoje senti um aperto
E isso não foi o que mais feriu meu peito
Foi saber que diante do fato
Vi em meu aluno um grande sujeito
Que sabe levar a vida a sério
E driblar dificuldades com efeito
E de repente, me vejo um adulto
Sem resposta tal qual um matuto.

Com tudo isso, tive uma grande lição
Uma criança quando é consciente
E tem desejo no coração
Sobe morro e desce montanha
E conquista tudo por suas mãos
Valoriza cada minuto de vida
E se aperfeiçoa em educação.
                          André Santos Silva



Comentário do autor

   Esse texto surgiu hoje, a partir de um fato interessante que aconteceu na sala de aula, onde me emocionei em ouvir um relato de um dos meus alunos do 4º ano do Ensino Fundamental, que mora na zona rural e, se levanta às 4 horas e 30 minutos da madrugada para se preparar e depois vir para a escola. Horário esse que muitos de nós ainda estamos dormindo. O que me emocionou foi perceber que ele, mesmo fazendo esse sacrifício, se alegra em ter que vir para a escola.
   São esses fatos que tornam a nossa profissão cheia de certeza. Somente, esses fatos!!!


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