Essa vida é engraçada
E não se pode duvidar
Quem não tem curiosidade
Não aprende nunca a falar
Mas quando a língua se desenrola
Haja pano pra costurar.
É vizinha que olha debaixo da janela
É a calçada que começa a se infestar
As comadres bem atentas e sentadas
Lá dão uma de comportadas e soltam boatos pelo ar
E quem não as conhece em seus traquejos
Pode delas levar até um beijo e inocente se enganar.
O pescoço é um grande instrumento
Desses que farejam e detectam uma boa nota
E quando se movimenta para captar um fato
Se estica disfarçadamente pros lados, e isso não é lorota
Os olhos dos curiosos também entram em ação
E quem é surdo recupera a audição só pra ouvir uma fofoca.
O curioso, bem atento, se disfarça
E na labuta consegue o seu olhar lançar
Vive todos os dias situações de grandes apuros
Mas não consegue se disfarçar
E se o assunto do momento é a vida alheia
Pode morrer até de desgosto, se não puder mais curiar.
Gente desse tipo é sem jeito
Tem língua grande que vai até o chão
Fica na vida desacreditada por muitos
E não tem mais valorização
Quanto ao hábito de meter o bedelho nos outros
Está no sangue feito "comichão".
André Santos Silva
Comentários do autor
Saudade do tempo em que se podia sentar tranquilamente na calçada e à luz da boa conversa - sem malícia alguma - comentar sobre os diversos assuntos, falar sobre tudo e todos, sem ter a necessidade de denegrir a imagem das pessoas, ou criar inimizades.
Era uma mistura de fofoca com interação!