Da rachadura da terra seca
O grão que geme,
Se espreme,
Germina,
Nasce e vinga.
Briga com a quentura
E sob a pressão
Da terra dura
Suas folhas vai protegendo.
O grão insiste
E por um instante
Quase desiste
De um dia frutificar.
Segue gemendo,
E aos poucos
Se espremendo
Para que em meio ao sol ardendo
Possa a vida contemplar.
O sol se intensifica,
As folhas perdem a cor.
Da terra rachada e seca
Sentem o imenso dessabor.
O vapor se espalha
Tal qual quentura d'uma brasa.
A folha se espreme,
Ressequida se joga à terra
Enquanto se sente despida
Aguarda a beleza da primavera.
O grão que há pouco
Se apertava ao chão
Dessa vez se sente fraco
E sem animação.
A semente sofre,
Não consegue continuar,
A quentura intensa
Sufoca do grão a essência
E faz o fruto sangrar.
Depois vem a chuva
E a paisagem seca
E turva
Começa a se modificar.
O grão de novo se espreme,
Se rasga, sofre e geme
E faz a vida despontar.
André Santos Silva
Comentários do autor
A beleza da natureza se expressa por meio dos diversos desafios milagrosos que a cercam.
Diariamente, somos surpreendidos por inúmeros comportamentos, e esses, tão particulares, sejam benéficos ao homem ou prejudiciais, embelezam a realidade da vida e do seu ecossistema.
Por isso, é importante que o homem se sinta peça angular na conservação do meio em que vive, promovendo a vida na sua diversidade.